Por obra do acaso estou aqui, nunca vi um acaso ser a resultado de alguma ação ou omissão; já vi, sim, muito pecado por ação ou omissão, nesse caso, estar aqui não é obra de acaso algum, se trata de expiação, é o que vem na mente agora, expiação das boas. Vejo-me agora entregue a toda sorte, e toda sorte de outros entregues a mim, outros que estão comigo nem um pouco por acaso, mas provavelmente expiando também; não sei se me sinto muito bem cumprindo a função de desgraça alheia, mas talvez eu até imagine agora, que, quando cometemos nossos atos, negativos ou positivos, somos direcionados ao encontro de outros, mais ou menos coerentemente relacionados... Se é que me faço entender.
Aqui vejo os namorados, os artistas, os solitários, as crianças, pobres crianças, que sorte as espera; Por hora elas brincam, casais se beijam, aqui poucos brigam, pois na maioria casais recentes, ou alçando vôos menos nobres socialmente falando, brisas de adultérios iniciais, porque adultérios só são adúlteros no inicio, depois viram namoros clandestinos, casamentos clandestinos, brigas clandestinas e separações reais, tudo clandestinamente, realidade clandestina... Sinto que, assim como eu, todos aqui esperam, por algo que seja, esperam à hora passar, ou que não passe tão rápido, esperam os portões quase fechados para irem embora, acredito que alguém até espera uma providencia divina, acredito mais ainda que esperem providencias lotéricas. Já ouviu a historia que todos somos vencedores? Parece que antes mesmo de nascer, nós ganhamos uma corrida, uma corrida pela vida; e olha ai o seu premio: a vida! Aqui esperamos, expiamos, todos vencedores, que o tempo passe rápido ou que ele nem passe, com toda e qualquer sorte, um dia. De vencedores a vencidos; ou será contrario?
Vivas cores não pra sempre
